sábado, 12 de setembro de 2009

Vídeo-poema: a poesia de Manoel de Barros

Nos dias 14 e 15, estarei em Campos de Júlio - MT para retomarmos as oficinas do Gestar. Em preparação para a formação, ao reelaborar os momentos desta oficina, que tratará, dentre outras coisas, de Estilística, visto que explorarão o TP5, nada melhor do que apreciar um poema do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Conforme um dos textos que fazem parte de uma série de artigos e apresentado no 9º Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo - USP: "No vasto rol de escritores e poetas que fizeram e fazem uso do recurso da auto-reflexão poética, insere-se brilhantemente o poeta Manoel de Barros, que instaura, em sua poesia, um ato reflexivo no qual a palavra retorna à fonte original para recuperar a linguagem perdida. Por conseguinte, o poeta quer subtrair a linguagem do seu uso cotidiano e nesse ato de subtração da linguagem ao lugar comum, o poeta elabora uma poética de libertação e sublimação." Em seus poemas, há uma reinvenção da palavra, com um estilo próprio faz uso, ao mesmo tempo, de uma linguagem contundente e na medida das coisas simples, e torna-as pragmáticas e provocantes. A metalinguagem entrecuza-se na linguagem de tal modo que a palavra é a própria palavra. Talvez sua filosofia simples se cruze com a mesma de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, quando ele diz que "O único sentido das cousas/É elas não terem sentido íntimo nenhum". Também percebe-se essa mesma defesa quando o eu-lírico que se instaura em Manoel de Barros diz que "Pensar é uma pedreira. Estou sendo./Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)".
Na metalinguagem de Manoel de Barros há essa defesa de explorar o que se vê de imediato, no chão em que se pisa: "Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao/fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão."

O poeta Manoel de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.
Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou Poemas concebidos sem pecado. Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.
Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o conhecimento dos poemas que a Editora Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de Gramática expositiva do chão.
Hoje, o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos poetas mais originais do século e mais importantes do Brasil. Tal originalidade foi observada por Guimarães Rosa, escritor mineiro que fez a maior revolução na prosa brasileira. Segundo ele, os textos de Manoel de Barros eram como a um "doce de coco". Foi também comparado a São Francisco de Assis pelo filólogo Antonio Houaiss, “na humildade diante das coisas. (...) Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade.”
Segundo o escritor João Antônio, a poesia de Manoel vai além: “Tem a força de um estampido em surdina. Carrega a alegria do choro”. Millôr Fernandes afirmou que a obra do poeta é “'única, inaugural, apogeu do chão”. E Geraldo Carneiro afirma: “Viva Manoel violer d'amores violador da última flor do Lácio inculta e bela. Desde Guimarães Rosa a nossa língua não se submete a tamanha instabilidade semântica”. Manoel, o tímido Nequinho, se diz encabulado com os elogios que “agradam seu Coração”(Castello, 1999:109-128)
O poeta foi agraciado com o “Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro Compêndio para uso dos pássaros. Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra Gramática expositiva do chão e, em 1997, o Livro sobre nada recebeu o Prêmio Nestlé, de âmbito nacional. Em 1998, recebeu o Prêmio Cecília Meireles (literatura/ poesia), concedido pelo Ministério da Cultura e ainda o título de Doutor Honoris Causa, título máximo de uma Universidade, concedido pela Universidade Católica Dom Bosco, em 2000.. Diz que o anonimato foi "por minha culpa mesmo. Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem freqüentei rodas, nem mandei um bilhete.Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje."

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