terça-feira, 13 de março de 2012

NASCE UM NOVO SUJEITO

Ao construir nossa história, somos atravessados por nossos convívios e leituras, da palavra e do mundo. Seres incompletos, o sujeito se completa no outro e nos silêncios. Em As formas do silêncio (1992), Orlandi afirma que o silêncio ao contrário do que podemos pensar, não é ausência mas significação, fundação. A esse silêncio podemos chamar silêncio fundador. Mas há também um outro viés do silêncio, o silenciamento. A política do silêncio sublinha que o dizer do sujeito esconde sempre outros dizeres, outros sentidos. Os recortes dos dizeres e o procedimento de mostrar uma coisa e esconder outras têm uma conotação política. Os enunciados ora omitem ora interrompem o sentido, deixando lacunas que se pretendem incompletas, mas que não o são porque é possível compreender esse silêncio à luz de uma análise dos discursos que nos silenciam. Carlos Drummond de Andrade remete-nos à busca do silêncio como compreensão de uma estrutura própria ao funcionamento do discurso. Em O constante diálogo ele pondera:
“Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
Dialogamos”. (1983, p. 950)
Então, sensíveis ao fato de que tudo tem significado e que as vidas seriam mais sublimes se tomássemos o cuidado com o que dizemos e/ou não dizemos, ponderar a linguagem utilizada por todos nos contextos sociais é a medida exata da comunicação amorosa das gentes. Compreender as diversidades como forma de crescimento, o diferente como portal para a sabedoria, é lição de humildade. É claro que isso não é tarefa fácil, pois somos atravessados por discursos construídos historicamente, e sair de seu lugar não é cômodo, requer um exercício constante de criticidade e dialogismo, de sair de si mesmo para olhar o outro com outros olhos que não são os meus mas o da cumplicidade e humanidade. Silenciar o outro também é uma forma de violência, talvez a mais cruel.

Maria Rosalina Alves Arantes

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Pedras no Sapato

Diariamente, deparamo-nos com desafios que nos testam a paciência, a tolerância e a fé na vida. Principalmente quando assumimos posições tão antagônicas (que atualmente nem parecem tanto, e isso nos remete a outros sentidos para os quais ainda não nos sentimos preparados para enfrentar) quanto são o papel de mãe e mulher-homem. Sim, mulher-homem! Não aquela que os meios midiáticos expõem como a evolução do ser multiforme, assexuado e liberal, mas aquela em que estão imbricados os valores ditos masculinos e femininos, a mulher que assume vários papéis: educadora e mantenedora da prole. Prole essa que nos confronta, porque são sujeitos, com suas definições construídas não só a partir de nossa expectativa, que nos assusta com posições que divergem do nosso imaginário maternal. Sou mãe? Sou mais! Sou mulher, sou menina, sou frágil, sou filha! E me firo, e me rasgo, e decepo os valores construídos!
E me faço nova criatura... a começar de novo.
Rever os ditos e os não-ditos, os passos e o que virá.
Fazer uma nova caminhada.
Prefixo de chegada.
Prazer? Volúpia?
Nada.
Fev/2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

2012: ANO DE DESCOBERTAS E DESASSOSSEGOS?

o difícil não é ir com o tempo
correr para trás com o tempo
cair na eternidade sem tempo

Difícil é arredar o tempo
não correr para trás com o tempo
estar em eternidade no tempo

- (Que a eternidade é estar o morto com os vivos
que não irá alcançar)
JORGE COOPER
(1911-1991)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ATIVIDADE 3.2 - EPROINFO - NAVEGANDO PELA LITERATURA DE MATO GROSSO

Estive “passeando” na net para alimentar a minha sede de literatura mato grossense. Olha o que encontrei neste site: http://www2.unemat.br/literaturamt/. Ao clicar nesse hiperlink, você terá acesso à historiografia literária de Mato Grosso, bem como obras em prosa e verso, pesquisadores da área, enfim, todo esse material lhe fornecerá subsídios para conhecer um pouco da literatura de MT. É claro que ainda se está “engatinhando” nesse tema, porque a arte literária mato grossense é escassa de pesquisas. É de difícil acesso as obras escritas, por isso o interesse em manter atualizado esse espaço virtual de conhecimento e partilha. Para introduzir esse gosto, lanço mão de um dos poemas que lá estão, de Manoel de Barros. Deliciem-se!
Auto-retrato Falado
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha,
onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto
como que desonrado e fujo para o Pantanal onde
sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que
fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

(Livro das ignorãças, p.107)
Acompanhe também outro poema de Manoel de Barros no vídeo abaixo:

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ao ler a entrevista do Professor Lucas, senti-me instigada a construir um pequeno vídeo em que imagem e música estabelecesse uma relação de sentido. Veja no que deu:


APRENDER SOCIALMENTE PELA MÚSICA

Heloísa Amaral, no texto "Ensinar e aprender para desenvolver pensamento e linguagem", retoma Vygotsky, pensador russo do século XX, para discutir o papel social da aprendizagem, dizendo que os instrumentos linguísticos, quando associados à experiência sociocultural, estruturam a aprendizagem. É por meio da linguagem que concretizamos nossos pensamentos, que são construídos a partir das inúmeras comunicações sociais a que estamos submetidos. Essa linguagem se materializa nos textos produzidos, sejam eles falas nas peças teatrais, fórmulas matemáticas e químicas, imagens, poemas, partituras musicais e muitos outros mais. Nunca aprendemos sozinhos, estamos em constante aprendizagem no contato com o outro, ou seja, aprendemos socialmente, na interação social.
Essa maneira de ver a aprendizagem coloca a escola e, claro, o professor, numa situação muito especial. O professor é o mediador entre o conhecimento já produzido e o que seu aluno vai construir, e os colegas também o são. "É nas interações sociais que nos apropriamos do conhecimento já produzido e depois o internalizamos. Depois do conhecimento internalizado, podemos criar outros conhecimentos, conhecimentos pessoais. A criação e a autoria, portanto, antes de serem individuais, são sociais. É nas interações que se dão na escola, com os colegas e especialmente com o professor, que os alunos desenvolvem experiências socioculturais inestimáveis, que desenvolvem seu pensamento e, é claro, sua linguagem"(AMARAL, Heloísa).
Ao navegar na plataforma do EPROINFO, na qual participo das TICs (Tecnologia, Informação e Comuncicação) - 100h, na Unidade 3, sob o tema "Prática pedagógica e mídias digitais", deparei-me com um trabalho interessantíssimo do professor Lucas Ciavatta, com o "Bloco do Passo". Esse projeto nasceu da necessidade de superar obstáculos de aprendizagem numa habilidade culturalmente relegada a poucos: a música. Na entrevista concedida pelo professor, ele deixa bem claro que o processo de aprendizagem não se daria de maneira positiva se não fosse pela interação social. Veja um trecho da entrevista em que ele destaca bem isso: "Uma característica marcante d’O Passo é a autonomia. Quem aprende se apropria não apenas do conhecimento, mas também do processo pelo qual adquiriu o conhecimento. Quem aprende sabe exatamente como aprendeu. Assim, imediatamente, como se fosse tudo uma coisa só, quem aprende pode em seguida ensinar. Estamos vendo isso o tempo todo, nossos estudantes ensinam aos irmãos, aos amigos, aos pais e aos outros estudantes. O trabalho no “Saltos no Tempo” é polifônico, várias vozes falando coisas diferentes, mas num mesmo discurso. Cada um segue um trajeto diferente para compor a riqueza que se tem ao final."
Mas o que música e mídias tem em comum? O próprio professor explica: "No caso do “Saltos no Tempo” usar um outro tipo de partitura foi uma necessidade e não uma opção. O uso da tecnologia viabilizou nossa música. Com uma partitura tradicional não teríamos como deixar claro o espaço, e ele aqui é fundamental. O uso do Power Point foi importante também para que com o recurso “apresentação de slides” pudéssemos ter uma idéia de como espacialmente a peça se desenvolveria." Então, foi utilizada a tecnologia para se viabilizar melhor os passos e o tempo da dança.
Nós, Profissionais da Educação, quando nos deparamos com situações de aprendizagem conflituosas, parece-nos mais "cômodo" deixar que o problema seja transferido para outros. No entanto, essa experiência do professor Lucas, num ambiente tão fascinante como o é a música, nos leva a uma reflexão instigante: ser professor requer de nós um passo adiante, requer de nossa caminhada uma constante busca de formação continuada para superar as dificuldades que temos para construir a aprendizagem. E se isso é através da música, melhor ainda, porque ela é a arte, como todas as outras artes, que desenvolve a sensibilidade, que nos torna mais humanos e nos aproxima do outro.
Veja, abaixo, um trecho da entrevista do professor:


Lucas Ciavatta, músico formado pela UNIRIO e Mestre em Educação pela UFF, é o criador do método de Educação Musical O Passo e diretor dos grupos de percussão e canto BLOCO DO PASSO e BATUCANTÁ.
É professor de Música do Colégio Santo Inácio (RJ), do Conservatório Brasileiro de Música (RJ), da Escola do Auditório Ibirapuera (SP), do Projeto TIM Música nas Escolas (RJ) e do Westminster Choir College (EUA).
É também coordenador pedagógico da Escola de Música Maracatu Brasil (RJ).
No Conservatório Brasileiro de Música (CBM-CEU) realiza regularmente o curso "O Passo para Professores".
Desde 1996, quando criou O Passo, tem viajado pelo Brasil (Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo) realizando oficinas e cursos para divulgação e ampliação d'O Passo.
Nos EUA, desde 2005 vem realizando cursos d'O Passo no Westminster Choir College da Rider University (Princeton, New Jersey), onde atualmente está sediada a organização OPUS (O Passo United States), formada por professores dos EUA que trabalham com O Passo.
Em 2006, realizou o primeiro curso d'O Passo na França, no Studios de Cirque de Marseille e, em 2009, realizou na França, com o Bloco do Passo, uma turnê com shows e oficinas por diversas cidades (Feyzin, Lyon, Lons-les-Sauniers, Paris, Toulouse e Villeneuve-les-Maguelones).
Em 2007, realizou o primeiro curso d'O Passo no Chile, na Universidad del Desarollo, em Santiago.

Para saber mais sobre o projeto desse professor, acesse o site www.opasso.com.br, clicando no título da postagem desse texto.

Assista também à apresentação do "Saltos no Tempo", umas das produções do Bloco do Passo:

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