Heloísa Amaral, no texto "Ensinar e aprender para desenvolver pensamento e linguagem", retoma Vygotsky, pensador russo do século XX, para discutir o papel social da aprendizagem, dizendo que os instrumentos linguísticos, quando associados à experiência sociocultural, estruturam a aprendizagem. É por meio da linguagem que concretizamos nossos pensamentos, que são construídos a partir das inúmeras comunicações sociais a que estamos submetidos. Essa linguagem se materializa nos textos produzidos, sejam eles falas nas peças teatrais, fórmulas matemáticas e químicas, imagens, poemas, partituras musicais e muitos outros mais. Nunca aprendemos sozinhos, estamos em constante aprendizagem no contato com o outro, ou seja, aprendemos socialmente, na interação social.
Essa maneira de ver a aprendizagem coloca a escola e, claro, o professor, numa situação muito especial. O professor é o mediador entre o conhecimento já produzido e o que seu aluno vai construir, e os colegas também o são. "É nas interações sociais que nos apropriamos do conhecimento já produzido e depois o internalizamos. Depois do conhecimento internalizado, podemos criar outros conhecimentos, conhecimentos pessoais. A criação e a autoria, portanto, antes de serem individuais, são sociais. É nas interações que se dão na escola, com os colegas e especialmente com o professor, que os alunos desenvolvem experiências socioculturais inestimáveis, que desenvolvem seu pensamento e, é claro, sua linguagem"(AMARAL, Heloísa).
Ao navegar na plataforma do EPROINFO, na qual participo das TICs (Tecnologia, Informação e Comuncicação) - 100h, na Unidade 3, sob o tema "Prática pedagógica e mídias digitais", deparei-me com um trabalho interessantíssimo do professor Lucas Ciavatta, com o "Bloco do Passo". Esse projeto nasceu da necessidade de superar obstáculos de aprendizagem numa habilidade culturalmente relegada a poucos: a música. Na entrevista concedida pelo professor, ele deixa bem claro que o processo de aprendizagem não se daria de maneira positiva se não fosse pela interação social. Veja um trecho da entrevista em que ele destaca bem isso: "Uma característica marcante d’O Passo é a autonomia. Quem aprende se apropria não apenas do conhecimento, mas também do processo pelo qual adquiriu o conhecimento. Quem aprende sabe exatamente como aprendeu. Assim, imediatamente, como se fosse tudo uma coisa só, quem aprende pode em seguida ensinar. Estamos vendo isso o tempo todo, nossos estudantes ensinam aos irmãos, aos amigos, aos pais e aos outros estudantes. O trabalho no “Saltos no Tempo” é polifônico, várias vozes falando coisas diferentes, mas num mesmo discurso. Cada um segue um trajeto diferente para compor a riqueza que se tem ao final."
Mas o que música e mídias tem em comum? O próprio professor explica: "No caso do “Saltos no Tempo” usar um outro tipo de partitura foi uma necessidade e não uma opção. O uso da tecnologia viabilizou nossa música. Com uma partitura tradicional não teríamos como deixar claro o espaço, e ele aqui é fundamental. O uso do Power Point foi importante também para que com o recurso “apresentação de slides” pudéssemos ter uma idéia de como espacialmente a peça se desenvolveria." Então, foi utilizada a tecnologia para se viabilizar melhor os passos e o tempo da dança.
Nós, Profissionais da Educação, quando nos deparamos com situações de aprendizagem conflituosas, parece-nos mais "cômodo" deixar que o problema seja transferido para outros. No entanto, essa experiência do professor Lucas, num ambiente tão fascinante como o é a música, nos leva a uma reflexão instigante: ser professor requer de nós um passo adiante, requer de nossa caminhada uma constante busca de formação continuada para superar as dificuldades que temos para construir a aprendizagem. E se isso é através da música, melhor ainda, porque ela é a arte, como todas as outras artes, que desenvolve a sensibilidade, que nos torna mais humanos e nos aproxima do outro.
Veja, abaixo, um trecho da entrevista do professor:
Lucas Ciavatta, músico formado pela UNIRIO e Mestre em Educação pela UFF, é o criador do método de Educação Musical O Passo e diretor dos grupos de percussão e canto BLOCO DO PASSO e BATUCANTÁ.
É professor de Música do Colégio Santo Inácio (RJ), do Conservatório Brasileiro de Música (RJ), da Escola do Auditório Ibirapuera (SP), do Projeto TIM Música nas Escolas (RJ) e do Westminster Choir College (EUA).
É também coordenador pedagógico da Escola de Música Maracatu Brasil (RJ).
No Conservatório Brasileiro de Música (CBM-CEU) realiza regularmente o curso "O Passo para Professores".
Desde 1996, quando criou O Passo, tem viajado pelo Brasil (Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo) realizando oficinas e cursos para divulgação e ampliação d'O Passo.
Nos EUA, desde 2005 vem realizando cursos d'O Passo no Westminster Choir College da Rider University (Princeton, New Jersey), onde atualmente está sediada a organização OPUS (O Passo United States), formada por professores dos EUA que trabalham com O Passo.
Em 2006, realizou o primeiro curso d'O Passo na França, no Studios de Cirque de Marseille e, em 2009, realizou na França, com o Bloco do Passo, uma turnê com shows e oficinas por diversas cidades (Feyzin, Lyon, Lons-les-Sauniers, Paris, Toulouse e Villeneuve-les-Maguelones).
Em 2007, realizou o primeiro curso d'O Passo no Chile, na Universidad del Desarollo, em Santiago.
Para saber mais sobre o projeto desse professor, acesse o site www.opasso.com.br, clicando no título da postagem desse texto.
Assista também à apresentação do "Saltos no Tempo", umas das produções do Bloco do Passo:
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
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