quinta-feira, 13 de agosto de 2009

As línguas faladas em Português e o ensino de língua materna no Brasil


Edson Gomes Evangelista
Maria Rosalina Alves Arantes
Cleide Larini Rodrigues Ávila
Ângela Claudia Dias Domingues
Solange Benetti

A partir do documentário “Língua, vidas em português”, de Victor Lopes, somos convidados a refletir sobre a diversidade de línguas que se faz presente na Língua Portuguesa, em um contexto histórico, geográfico e cultural. Filmado em vários países, como Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, Japão, o documentário aborda de modo bastante relevante histórias em Língua Portuguesa, a permanência e as transformações sofridas por esta língua.
Um dos protagonistas, José Saramago, enfatiza que, a rigor, não existe uma Língua Portuguesa, mas línguas faladas em português. A afirmação do escritor português se confirma, por exemplo, na fala de Dinho, adolescente moçambicano, cujo maior sonho é migrar-se para os Estados Unidos e que, ao se referir à gravidez da namorada adolescente, no momento em que diz “plantei uma árvore sem ter água pra regar”, nos mostra o quão relacionadas estão as questões culturais com a língua.
Atravessados que estamos pela nossa historicidade, presentifica-se em nós uma série de expressões, preceitos e/ou conceitos ideológicos. Expomos, através da linguagem, como somos sujeitos desoriginalizados, com pretensão à originalidade, porque participamos de uma cultura empírica, que é reflexo do que somos, de onde viemos e do grupo ao qual pertencemos. Martinho da Vila expõe claramente essa ideia ao dizer que o que faz a memória é a palavra.
Partindo desse pressuposto, o que se questiona aqui é como ensinar a língua nesse contexto pós-moderno? Como o sujeito escritor se configura na literatura? Somos impelidos a elaborar critérios de uso da expressão linguística, porque somos professores. Entretanto, justamente porque o somos, há que se dispor de uma relatividade na postura que assumimos. Assim, considerar a historicidade do sujeito-aluno é o pressuposto que deve imperar no ensino de “línguas”.
Na contemporaneidade, quiçá sejamos instados todos os dias pelos brados daqueles que tomamos por educandos: “deem-me água. Reguem os meus sonhos, ajudem-me a torná-los projetos. Preciso vislumbrar um lugar, onde um outro eu seja possível”. Portanto, trabalhar a Língua como algo exógeno, estranho aos usuários que a realizam e que por meio dela se realizam é, de certo modo, negar-lhes peremptoriamente o direito de ser, como Saramago outra vez nos diz em: “é impossível não pertencer à Língua que se aprende”. Afinal, pós-moderno é o sujeito único e múltiplo a um só tempo, cuja memória, identidade e cultura não se fazem antes, tampouco depois, mas no bojo da língua prenhe de histórias, subjetividades, angústias, desejos, frustrações, realizações. É como dissera Mia Couto: “No fundo, não estás a viajar por lugares, mas sim por pessoas”.

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