quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MEU MEMORIAL DE LEITURA

Minha história de leitura é perpassada por diversas nuances.
Faço desta história o meu caminho de construção de sentidos.
Lembrando sempre que há silenciamentos que significam.
E há o dito que constrói ou não.
Professora Maria Rosalina

É interessante e revigorante lembrar-me de como foi meu primeiro contato com as letras. Pra começar, sempre fui fascinada pela leitura, desde cedo fui curiosa e ficava à espreita dos mais velhos em casa em busca de pistas que me levassem a decifrar os códigos linguísticos. Somos cinco filhos em casa, sou a penúltima destes, e meu irmão, que veio antes de mim (mais velho que eu) colecionava gibis do Tarzan, do Fantasma, dos heróis da Marvel, Tex, Zagor, além dos personagens da Disney (Pato Donald, Tio Patinhas...) e muito mais! Ele tinha uma caixa de papelão de mais ou menos uns 80 cm de diâmetro, repleta deles! E, de tanto folheá-los e observar a leitura do meu irmão, aprendi a ler sozinha.
Recordo-me de que, já aos cinco, seis anos de idade, minha mãe nos delegava tarefas domésticas, como varrer a casa, lavar a louça; e, enquanto fazia isso, eu me escondia nos cantinhos dos cômodos, com um gibi nas mãos para lê-los, esquecida da vassoura, ou apoiada nela... Isso me levou a adiantar na escola, quando lá entrei, detectaram que eu já sabia ler. Por isso, fiz um teste e fui pra 2ª série.
Já mais velha, na minha adolescência, os moldes em que a escola se encontrava não me estimularam a continuar esse processo, tanto que, apesar de continuar lendo, não tive tanto sucesso nas línguas e, por incrível que possa parecer, era melhor em matemática que em português da 5ª a 8ª série. Mesmo assim, lia os livretos típicos da fase: Bianca, Sabrina, Júlia e as revistas de fotonovelas (quanto romance, quantos devaneios estas leituras não provocaram em nós!). Havia uma amiga que tinha uma coleção das biancas, sabrinas e julias... Extasiávamos com essas leituras. Meu pai era leitor assíduo: tinha a coleção completa de Jorge Amado. Lembro de um dos livros: Gabriela, Cravo e Canela...
De minha casa, somente eu prossegui nos estudos. Minha mãe estudou muito pouco, só tinha a 2ª série, mas sempre nos incentivou a estudar, além disso, trabalhava em Educação e sabia da importância que isso tinha. Tanto que, antes de se aposentar, voltou à escola e concluiu o Ensino Médio, aposentando-se, assim, com um salário melhor.
Meu processo de leitura, ou letramento, continuou no magistério, quando já me via dando aulas. Com 17 anos comecei a trabalhar como professora na rede privada. Lia muitos teóricos, como Paulo Freire, por exemplo.
Com 18 anos, tive meu primeiro filho, Caíque. Com ele aprendi a contar histórias, coisa que eu não tive na infância, mas me lembro de mamãe ensinando-nos todas as brincadeiras possíveis próprias do tempo de criança dela, como fazer quadrinhas nas brincadeiras de roda, pular corda, caí no poço, esconde-esconde..., e já adulta percebi o quão importante foi tudo isso (mal sabia ela que estava me envolvendo numa rede de letramentos).
Ingressei na faculdade com 24 anos e meio. E não parava mais de ler, pois quem faz Letras está sujeito a se deparar com leituras diversas, as letras se embaralham e se confluem na cabeça do letrado. Não saía da biblioteca da universidade, li os que me impuseram, os que me instigaram a ler e os que me fascinaram... Passeavam em mim clarices, drummonds, Guimarães roseanos, o lirismo camoniano, as literaturas épicas que marcaram toda arte ocidental: Odisséia, Ilíada... Ah, a dramaturgia grega com Sófocles e outros mais. O lirismo de Fernando Pessoa e sua genialidade transportada por heterônimos e por ele mesmo. A literatura inglesa, com o querido professor Fábio. A literatura latina, com Madalena Machado, a literatura brasileira, com José Pereira, e as literaturas infanto-juvenis, que encanto, apresentadas pela professora Maria Inês Parolin. Que saudades daqueles delírios fagueiros fustigados pelas literaturas!!!
Com o tempo, enredei-me pela leitura das análises linguísticas, com a Análise do Discurso descobri os sentidos do silêncio... E tanto que finalizei o curso decidida a encontrar uma confluência entre esses sentidos e a literatura. Foi quando me foram apresentados os livros de Francisco José Costa Dantas. A princípio, li Os Desvalidos, não contente, parti para Coivara da Memória, e, por fim, li sua terceira obra Cartilha do silêncio. Não caberia aqui fazer um trajeto de tudo o que li para que fizesse o meu recorte monográfico. Mas, li muitos teóricos a respeito do tempo na narrativa, inclusive alguns americanos e ingleses. Foi nessa época que também conheci, pelas letras, é claro, Virgínia Wolf, com seus fluxos de consciência e Marcel Proust, com seu Em busca do tempo perdido, basicamente, o volume 07 O tempo redescoberto. Vi-me envolvida num campo semântico muito amplo: nos sentidos do sujeito-personagem perdido num tempo caótico, atravessado por angústias do nosso tempo; tempo em que se mudam as estruturas, mas o homem não tem mais o seu lugar no tempo e no espaço.
Enfim, como podem perceber quem me lê, apaixonei-me pela literatura de tal modo que hoje, quando dou aulas no Ensino Médio de Literatura, é-me prazeroso absorver os sentidos outros que me aparecem nos sujeitos-alunos e nos textos que levo pra sala de aula.
Paralelo a isso, tenho olhos de coruja para com meu caçula, Yago, que se principia pelas letras e faz delas suas mais incríveis brincadeiras, ele ri enquanto lê, seus olhos brilham quando descobre os implícitos do ler, seu tempo corre enquanto lê que nem percebe que já está tarde e é hora de dormir... Conto histórias, de novo, de novo e de novo... E quantas vezes a mesma história...

Yago - filho da prof.ª Maria Rosalina. Lendo, concentrado...

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