sexta-feira, 19 de junho de 2009

MINI-CURSO DO I SIEPES - UNEMAT - PONTES E LACERDA - MT

No I SIEPES também foi oferecido alguns mini-cursos. Dentre estes, um foi especial porque expunha a teoria bakhtiniana e sua aplicabilidade na prática pedagógica. A professora responsável pelo mini-curso é uma mestranda da UFMT, SOELI APARECIDA ROSSI DE ARRUDA. Segue um aporte do que foi exposto por ela. Leiam e comentem! Gostaria de saber o que acharam!

GÊNEROS DISCURSIVOS: UMA METODOLOGIA INOVADORA PARA O ENSINO DE LEITURA E ESCRITA
Aporte teórico a partir do minicurso supracitado
A circularidade textual está presente em todas as áreas do conhecimento. Falar de gêneros textuais supõe um aporte teórico voltado à área da linguagem, o que é errôneo, pois estes permeiam todas as atividades humanas.
Qual a diferença entre gêneros textuais e gêneros discursivos? Na verdade, o aluno não deve, necessariamente, conhecer a linha teórica. Gêneros discursivos = Bakhtin. Jackobson, Labov, Saussure, são teóricos para os quais os olhos do autor se voltam e o analisam com outro olhar. O gênero discursivo considerará todo o contexto discursivo, enquanto o gênero textual tem uma metodologia diferenciada, pois trabalhará em separado as estruturas textuais. Quando se fala em tipos, são gêneros textuais, que para Bakhtin serão enunciados constituídos historicamente; que, por sua vez, para o gênero textual será um trecho do texto.
Enquanto a análise do discurso volta-se à análise do inconsciente, Bakhtin procura perceber a linguagem na sua forma consciente, considerando o papel do outro na construção dessa linguagem e em sua significação, que é responsiva e pode acontecer em diferentes momentos. Cada qual produz de acordo com seu tempo de assimilação ou de aquisição da escrita ou organização desta de forma a transpor uma significação, levando sempre em conta o papel do outro. A interlocução se dá de forma diferenciada em cada momento de enunciação, mesmo que se aproprie do mesmo gênero (com um tripé significativo), o outro dá a um enunciado um novo sentido.
A competência de leitura deve ser papel de todas as disciplinas curriculares.
Por que trabalhar com gêneros de discurso no ensino de línguas hoje? Para que o aluno se desloque do seu lugar e reconheça que o texto (gêneros textuais) lhe é comum. O reconhecimento com o qual ele se depara é de deslumbramento frente a situações comunicativas que lhe são naturais. Daí que trabalhar as competências de leitura e escrita torna-se acessível e o desenvolvimento dessas habilidades transforma-se em um trabalho transdisciplinar.
As práticas sociais devem ser consideradas no ensino de língua. Que sentido teria para o aluno expor somente a forma textual, sem considerar o contexto histórico/social, a situação comunicativa?
Tripé do gênero discursivo:
• conteúdo temático: o que pode ser dizível em um gênero – temas típicos;
• forma composicional (fixa): formas de organização dos textos (partes típicas e formas de conexão)
• estilo: seleção de recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua.
Internetês é linguagem, diferente de MSN, Orkut, que instauram gêneros discursivos. Para Bakhtin, o deslocamento de um gênero para outra esfera se denomina hibridismo.
A leitura deve ser a base de todo professor, principalmente, se for de linguagem. Ao trabalhar com gêneros, é preciso estabelecer paralelos com outras leituras; leituras prévias que darão suporte técnico para que a interpretação do gênero se transporte para o imaginário, e a partir dele se instaure um novo sentido que está posto, porém não está dito.
O texto, seja ele técnico, literário, informativo e outros, não deve ser pretexto para outros conteúdos. É importante estabelecer parâmetros para se estimular uma atitude responsiva do aluno. Criar situações interpretativas que sustentem o suporte textual e só depois oferecer outras organizações que o sustentem, como as questões estruturais e linguísticas. O gênero discursivo/textual, se trabalhado de forma responsiva, leva o aluno a ter o que dizer, como dizer e pra que dizer.
Utilizar os gêneros discursivos/textuais como forma de aprendizado torna a aula interessante para o próprio aluno. É imprescindível fazer da aula um laboratório de pesquisa para que as expectativas dos alunos sejam levadas em conta. Levantar questões de aprendizado requer do professor um atitude de escuta, ou seja, preparar uma aula supõe uma diagnose inicial que parta do outro (o aluno).
Como perceber com o aluno as organizações textuais que perpassam as tipologias? Levantar questões como sequências que os arregimentam como sendo narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo ou injuntivo é um caminho possível. Na ordem do narrar, é possível explorar vários gêneros: contos, fábulas, ficção... Na ordem do relatar: temos a notícia, o relatório... Na ordem do argumentar: o artigo de opinião, carta ao leitor, discurso de acusação... Na ordem do expor: seminários, conferências, entrevistas... Na ordem da injunção: regulamento, regras de jogo, instruções de uso, manuais, receitas...
Preparar bem uma aula requer também do professor uma postura profissional coerente com sua ótica. Ser professor de língua portuguesa passa, necessariamente, pela questão da ética que faz do profissional um conhecedor da língua. Valorizar as variedades lingüísticas é essencial para que o aluno se sinta capaz de participar do processo educativo, porém não devemos nos esquecer de que somos professores de língua e que a aptidão ou o conhecimento das estruturas linguísticas devem ser preconcebidas e/ou construídas pelos professores.
Os gêneros não são invenções individuais, fazem parte de todo um processo de construção social e se tornam práticas cotidianas. Na perspectiva dos gêneros, os alunos devem ser levados a observarem e analisarem os eventos lingüísticos mais diversos.
Trabalhar com gêneros supõe uma organização de aportes de leituras diversas para que o processo de construção do conhecimento desses gêneros leve o aluno a perceber os aspectos pertinentes a cada gênero, como quem é o autor; onde ele circula; quando foi escrito; que outras informações foram preconcebidas e/ou a que outras leituras ele se remete, quais as fontes que ele buscou; a quem se dirige; onde se encontra aquele gênero... Além disso, expor a referência bibliográfica deve fazer parte do contexto da aula.
A interdiscursividade é uma marca da teoria bakhtiniana, que nos remete ao mesmo sentido de intertextualidade de Marcuschi. Os gêneros fazem sentido a partir de um contexto social e histórico em que ele está inserido, é aí que se instaura o tema da enunciação.
E o papel da escola nesse contexto de se trabalhar com os gêneros discursivos? Ela exerce ainda um papel de enrijecimento do conhecimento, tornando o aluno receptor de algo sem significação, que não faz sentido, que não acompanha um novo paradigma de trabalho com a linguagem. Na concepção atual, a leitura e a interpretação deve ser a premissa de todo e qualquer trabalho com a linguagem. O professor deve se inquietar com um trabalho enrijecedor, levando-o a perceber que seu papel é muito mais do que um simples decodificador da linguagem, é, antes, um mediador do conhecimento. É interessante sentir-se como Clarice Lispector:
Quanto a português, era com o maior tédio que eu dava as regras de gramática. Depois, felizmente, vim a esquecê-las. É preciso antes saber, depois esquecer. Só então se começa a respirar livremente” (Clarice Lispector, A descoberta do mundo)
O leitor primeiro é o próprio professor; leitor assíduo, pertinente, dinâmico. Seu trabalho exige uma preocupação em mostrar ao aluno que o texto não existe somente na escola, ele circula nos vários contextos sociais.
Quando se propõe trabalhar com gêneros discursivos, há que se fazer uma diagnose e a partir dela fazer um constructo teórico para que se criem leituras referentes aos gêneros elencados na prática de sala de aula. Melhor dizendo, elencar os critérios para planejamento das aulas com gêneros supõe um trabalho de pesquisa, pelos próprios alunos e, por que não, pelo professor, de textos pertinentes ao gênero pressuposto. Daí parte-se para um levantamento do corpus organizacional desse gênero, construindo leituras que leve ao aprendizado da organização textual desse gênero. Também levantar o que já faz parte do conhecimento do aluno a respeito desse gênero, para que a aula não se organize de forma cansativa.
Como processo de avaliação dos textos escritos, levar em consideração a organização do gênero, que público-alvo ele atingirá, qual o veículo de divulgação que será utilizado...
Quando se propõe esse trabalho com gêneros, o trabalho leva o aluno a uma circulação mais ampla, ultrapassando os limites da escola, sua circularidade vai além. Com isso, ele torna-se participante ativo e não passivo da própria construção do conhecimento. Essa organização da aula com gêneros deve passar por uma refacção entre alunos, levantamento de conhecimentos prévios da turma, para só depois de esgotada todas as possibilidades de organização textual, o professor intervir nessa organização.
O gênero oral é uma exploração que deve fazer parte do processo de construção do conhecimento na escola entre os alunos. Nada deve ser organizado sem critérios. Trabalhar com gêneros não significa deixar de elaborar regras, pelo contrário, estabelecer critérios junto aos alunos é primordial para que o trabalho se construa de maneira significativa. Apresentar ao aluno as formas como se organizam os gêneros, mesmo os orais, com comportamentos e situações específicas para a manifestação desses gêneros. A participação do aluno na exposição de gêneros orais leva-os a aprender a manipular a linguagem de forma a apresentar-se como bons oradores, bem como leva-os a perceber qual a postura pertinente a situações de exposição ao público coerente com a organização desse gênero.
Maria Rosalina Alves Arantes
Pontes e Lacerda – MT
Professora formadora do GESTAR II

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